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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pentágono compra 124 caças da Boeing

O Pentágono comprará 124 aviões de combate Boeing para a Armada dos Estados Unidos por um  valor de US$  5,3 bilhões, informou a empresa aeroespacial e de defesa.

O acordo anunciado nessa quarta-feira pela Boeing e pelo Pentágono, estipula o fornecimento à Marinha de 66 caças F/A-18 "Super Hornet" d 58 EA-18G, esse último destinados à guerra eletrônica. O fornecimento começará em 2012 e terminará em 2015.

O contrato é baseado em um preço de cerca de US$ 42,7 milhões por avião, exceto motores e outros equipamentos adaptados para o Governo.

O acordo com a Boeing é o segundo maior contrato de fornecimento de caças ao Pentágono. Em 23 de setembro, o Departamento de Defesa dos EUA concluiu um acordo com a companhia multinacional da indústria aeroespacial Lockheed Martin para produção de 30 caças F-35 Lightning II por um valor de US$ 5 bilhões.

1ª Guerra termina em outubro com pagamento alemão

A revista semanal alemã Der Spiegel informa que a Alemanha fará em 3 de outubro seu último pagamento das reparações de guerra relativas à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Com o pagamento de 56 milhões de euros, o conflito, que deixou 16 milhões de mortos, estará oficialmente encerrado, 92 anos depois. O país comemora no mesmo dia a reunificação alemã.

Segundo a revista, pelo Tratado de Versalhes, imposto pelas potências que venceram o conflito, a Alemanha, declarada a única culpada, deveria pagar como reparações 269 bilhões de marcos de ouro, equivalentes a 96 mil toneladas de ouro. Em 1929, um acordo reduziu essa dívida a 112 bilhões de marcos de ouro. O país emitiu bônus para quitar a dívida em 1924 e em 1930.

A Alemanha suspendeu os pagamentos em 1931, por causa da crise financeira global, e recusou-se a retomá-los em 1933, quando Adolf Hitler chegou ao poder. Em 1953, a Alemanha Ocidental concordou em assumir a dívida e pagou o montante principal nos anos seguintes, mas o acordo permitia que o país adiasse o pagamento dos juros acumulados entre 1945 e 1952 até que estivesse reunificada, o que aconteceria somente em 1990.

Irã apresenta esquadrões de "botes voadores"

Ontem, quarta-feira (29), o Irã apresentou 3 esquadrões de novos botes voadores, uma versão atualizada desses aparatos, de pequeno tamanho, tem capacidade de patrulhar sobre a superfície marinha com foguetes e mísseis abordo. As vantagens estratégicas mais importantes desses veículos é pode se evadir dos radares inimigos e a rapidez com a qual de desloca na água e logo o levantamento de vôo.

As naves anti-radar chamadas de Bavar-2 (Crença-2 em português), estão equipadas com metralhadoras e câmeras de vigilância, equipamentos de visão noturna e registro de transmissão de dados.

A apresentação ao público foi sincronizada com as celebrações da Semana da Defesa Sagrada. Nessa data, se comemora a resistência do Irã de 8 anos de duração da invasão iraquiana nos anos 80.

O brigadeiro-general Ahmad Vahidi, ministro da Defesa do país, supervisionou a entrega dos botes voadores no complexo naval de Bandar Abbas, instalado no Golfo Pérsico, perto do Estreito de Hormuz. Na ocasião, comentou que a República Islâmica do Irã é “um dos poucos países do mundo a conseguir desenhar e construir e usar botes voadores em um período muito curto”, segundo informa a agência noticiosa iraniana FARS.

O ‘desmanche’ do submarino nuclear acidentado russo entra em fase ativa no estaleiro militar

Especialistas do estaleiro militar de “Zvezda”, situado no Extremo Oriente russo,  passaram a fase ativa do desmanche do submarino nuclear K-431 que sofreu um tráfico acidente em agosto de 1985, comunicou hoje um porta-voz da empresa.

“Durante o desmanche do submarino não será descarregado o combustível nuclear utilizado, nem será realizado trabalhos no compartimento do reator”, disse o porta-voz.

Em 10 de agosto de 1985, durante a descarga do combustível utilizado, aconteceu uma explosão a bordo do submarino, o que causou a morte de 10 membros da tripualação.

“Caso surja algum perigo para o pessoal empenhado nas tarefas do desmanche, todos os trabalhos serão suspendidos”, precisou o porta-voz.

Após a conclusão do desmanche, as peças do submarino será transportadas para um ponto nada  para Baía de Razboinik, onde serão armazenados temporariamente reactores nucleares.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

S-300 derruba com êxito alvos que imitavam mísseis de cruzeiro durante exercícios

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O sistema de mísseis de defesa aérea S-300 derrubou hoje com êxito distintos alvos que imitavam, entre outros, mísseis de cruzeiro durante alguns exercícios realizados no polígono militar de Chelemba, situado na província de Chita (Extremo Oriente Russo), informou o porta-voz do Ministério da Defesa, o tenente-coronel Vladimir Drik.

“Os mísseis S-300 foram disparados contra distintos alvos que imitavam mísseis de cruzeiro e outros objetivos aéreos que se deslocava a baixa altura. Cem por cento dos alvos foram abatidos”, disse o porta-voz.

O sistema de mísseis anti-aéreos S-300 é considerado hoje o mais eficaz para defender instalações, bases militares e posto de comando contra-ataque de mísseis de todos os tipos, incluindo mísseis balísticos.

Segundo especialistas, o S-300 supera por suas principais características o sistema americano Patriot, sistema esse usado por vários países do mundo, incluindo Israel.

As últimas versões do S-300 são capazes de abater aviões inimigos até uma distância de 150 km e a alturas de até 27 km.

"Nós não aceitaremos o novo tom da AIEA", diz chefe do programa nuclear do Irã

O Irã não está satisfeito com o novo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano. O diretor da agência nuclear iraniana, Ali Akbar Salehi, acusa Amano, em uma entrevista a "Der Spiegel", de nutrir preconceitos contra o seu país e adverte que esta rota poderá levar a uma "catástrofe global".

Ali-Akbar Salehi
Spiegel: No início deste mês, ativistas da oposição iraniana no exílio revelaram a existência de uma instalação secreta de enriquecimento de urânio localizada perto de Abyek, cerca de 120 quilômetros a oeste de Teerã. Você fez esta viagem a Viena para admitir perante a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a existência de outras instalações secretas?

Salehi: Esta mais recente acusação é uma impertinência. Eu gostaria que esses grupos de oposição tivessem sido mais precisos em relação a essas supostas instalações de processamento de urânio. Se eles tivessem feito isso, eu o levaria até o suposto local durante a sua próxima visita ao Irã, de forma que você pudesse ver com os seus próprios olhos o quão absurdas são as alegações desses indivíduos.

Spiegel: Em vez de me levar até lá, talvez você devesse permitir que os inspetores da AIEA investigassem essas alegações.

Salehi: Nós não permitiremos isso de forma alguma. Onde iríamos parar se permitíssemos que elementos controladores entrassem no nosso país após cada alegação injustificada? Nós somos uma nação soberana. Não somos lacaios de ninguém.

Spiegel: No entanto, vocês estão de fato procurando locais adicionais que possam ser apropriados para a construção de laboratórios subterrâneos.

Salehi: Nós estamos atualmente procurando locais nos quais possamos construir instalações que sejam imunes a quaisquer ameaças possíveis. Nós encontramos dez locais desse tipo, espalhados pelo país. Mas isso não significa que desejamos construir instalações neles amanhã. Estamos aguardando a decisão do presidente Mahmoud Ahmadinejad a respeito de onde de fato deveremos começar a trabalhar. Talvez comecemos a construção de uma instalação já na próxima primavera. Quando chegarmos a tal etapa, anunciaremos publicamente o projeto.

Spiegel: O principal negociador nuclear do Irã, Saeed Jalili, indicou recentemente que está preparado para dar continuidade às negociações caso o grupo de parceiros negociadores – que atualmente inclui os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mais a Alemanha – seja ampliado. Você tem alguma proposta concreta?

Salehi: Existe muita conversa quanto a isso, e uma ampliação do grupo...

Spiegel: ...de maneira a incluir, por exemplo, representantes de governos mais amistosos em relação a Teerã, como Venezuela, Brasil ou Turquia.

Salehi: ...isso seria uma boa oportunidade para esclarecer várias questões relativas à política nuclear internacional. Mas nós não abriremos mão do nosso direito garantido de enriquecer urânio a um baixo teor para fins civis.

Spiegel: Em outras palavras, Teerã continua na rota do confronto com a comunidade internacional?

Salehi: Nós não estamos interessados em provocar conflito. Eu viajei a Viena para a conferência geral da AIEA a fim de representar o Irã como membro participante, apesar do aparente preconceito do novo diretor-geral, Yukiya Amano.

Spiegel:
De que exatamente você o acusa?

Salehi:
Amano fracassou várias vezes nas suas tentativas de obter este cargo, apesar de ele ser oriundo de um país poderoso como o Japão. Muitos países temiam que ele cedesse a pressões externas. Ele só foi eleito por uma margem mínima após ter prometido expressamente que exerceria o cargo com integridade. Mas, sob o nosso ponto de vista, é exatamente isso que está faltando. Amano precisa ter cuidado para não perder a legitimidade devido à sua simpatia por certas políticas.

Spiegel: Amano simplesmente foi mais direto do que Mohammed ElBaradei ao apontar os lapsos do Irã.

Salehi:
Tudo o que Amano fez foi requentar velhas acusações. E quando nós rejeitamos dois inspetores, o que é um direito nosso, ele apresentou isso como sendo uma falta de cooperação da nossa parte. Eu estou tentando acomodar a IAEA de uma forma que está além das nossas obrigações escritas. No entanto, aumentou significativamente no Irã a oposição a uma cooperação flexível com a AIEA. Nós não aceitaremos o novo tom.

Spiegel:
Você está ameaçando cessar a cooperação?

Salehi: Nós não estamos ameaçando ninguém. Isto é apenas uma advertência amigável, mas séria, de que um indivíduo não pode se tornar politicamente instrumentalizado. Nós estamos perguntando a nós mesmos: Amano está interessado em fornecer um pretexto para um ataque contra nós? A abordagem objetiva de ElBaradei fez com que ele ganhasse o Prêmio Nobel da Paz. Será que Amano está interessado em vincular o seu nome à guerra? Será que ele deseja ver o mundo mergulhado em uma catástrofe?

Spiegel: Você ainda necessita da mediação de Amano. Atualmente, o Irã encontra-se em negociações com a AIEA, a França, a Rússia e os Estados Unidos quanto às varetas de combustível para o seu reator de pesquisas em Teerã.

Salehi: Nós pedidos assistência à AIEA 15 meses atrás. O reator é vital para o tratamento de pacientes com câncer, por exemplo. Mas nós não recebemos o auxílio solicitado. Agora, estamos enriquecendo nós mesmos o urânio para a reator, com um teor de pureza de 20%. Nós já produzimos 25 dos 120 quilogramas dos quais necessitamos. Somos capazes de produzir cerca de cinco quilogramas por mês. Mas nós estamos produzindo de fato apenas os três quilogramas por mês dos quais necessitamos imediatamente para o nosso uso. Entretanto, continuamos prontos a discutir qualquer mudança.

Ali Akbar Salehi, 61, é o diretor-geral da Agência Iraniana de Energia Atômica. Antes de ocupar o atual cargo, Salehi foi o delegado iraniano na Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena

A ascensão dos populistas europeus de direita

Geert Wilders
Ele é um político que alega não ter nada contra os muçulmanos, e que diz detestar apenas o islamismo. Um homem carismático, de cabelos louros oxigenados, elegante, eloquente; e ele é também precisamente aquele tipo de político que nas últimas semanas tem amedrontado os principais partidos políticos da Alemanha.

O nome dele é Geert Wilders, um político holandês de uma espécie que não existe ainda na Alemanha: um populista que estimula o ódio contra o islamismo e o establishment, e que tirou muitos votos dos partidos tradicionais na sua nativa Holanda. Na verdade, ele tirou tantos votos que esses partidos não são mais capazes de formar um governo sem ceder a Wilders uma parcela do poder.

Wilders é a figura central de um movimento que há anos vem contando com um número cada vez maior seguidores na Europa, penetrando nos poderes legislativo e executivo, e fazendo com que os minaretes muçulmanos sejam proibidos na Suíça e as burcas na Bélgica. O fenômeno é uma espécie de rebelião popular contra o islamismo, dirigida por políticos e jornalistas de direita em toda a Europa. Estes indivíduos se apresentam como pessoas que desejam expressar um sentimento que, segundo alegam , ninguém mais ousa expressar: o sentimento de que os muçulmanos estão minando a Europa e de que o Ocidente precisa ser salvo. E essa abordagem tem tido sucesso.

“Uma ideologia oposta a tudo o que tem importância para nós”

O homem que convidou Wilders para discursar em Berlim, a capital alemã, no próximo sábado, gostaria de imitar o político holandês. René Stadkewitz, 45, um homem bem vestido de cabelos curtos, foi recentemente expulso do diretório de Berlim do partido alemão de centro direita União Democrata Cristã (em alemão, Christlich Demokratische Union Deutschlands, ou CDU), que ele representou durante anos como membro ordinário do parlamento da cidade-Estado de Berlim. Agora ele fundou um novo partido chamado “Die Freiheit” (“A Liberdade”), em uma alusão ao Partido da Liberdade, a agremiação de Wilders.

Wilders está viajando para Berlim para ajudar Stadtkewitz a lançar o novo partido. Quem quiser ver o proeminente convidado tem que se registrar online e pagar com antecedência uma taxa. Por motivos de segurança, o local em que se dará o evento só é revelado àqueles participantes registrados que pagaram a taxa.

Stadkewitz está com pressa. Ele está prestes a levar uma equipe de televisão holandesa para um passeio por Berlim no seu automóvel BMW. Ele deseja mostrar aos jornalistas a sociedade paralela muçulmana que não estaria sendo revelada pela mídia alemã.

Um para-raios para a raiva popular

Na Alemanha há um novo debate desencadeado por um novo livro de Thilo Sarrazin, um político polêmico do Partido Social Democrata da Alemanha (em alemão, Sozialdemokratische Partei Deutschland, ou SPD), no qual ele descreve os imigrantes muçulmanos como uma ameaça existencial à Alemanha. Desde que o livro foi publicado e recebido com grande aprovação popular, muitos colunistas, acadêmicos e políticos têm se perguntado se a Alemanha continuará sendo uma exceção no que se refere ao seu cenário político. Este é ainda o único país da Europa Ocidental que não tem um partido populista de direita atuando como um para-raios para a raiva popular dirigida contra o Islamismo e o establishment político.

Nos últimos meses, partidos populistas de direita impossibilitaram a formação de governos de maioria em três países da União Europeia: Bélgica, Holanda e, mais recentemente, Suécia. Embora os populistas de direita neste último país tenham obtido apenas 5,7% dos votos, isso foi suficiente para privar a atual coalizão governista de centro-direita de uma maioria absoluta. Todos os três países foram conhecidos durante muito tempo pelo liberalismo político que praticavam, mas agora quem está ganhando influência são os partidos políticos que veem o islamismo como “a maior ameaça estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial”, conforme diz Jimmie Akesson, 31, o presidente do Democratas Suecos (em sueco, Sverigedemokraterna, ou SD).

Partidos populistas de direita têm feito parte há anos de coalizões governamentais na Itália e na Suíça, e eles contam com cadeiras nos parlamentos da Dinamarca, da Áustria, da Noruega e da Finlândia. A Frente Nacional (em francês, Front National, ou FN) de Jean-Marie Le Pen, conquistou 9% dos votos nas eleições regionais francesas da última primavera, com uma campanha anti-islâmica. Em março deste ano, a Liga Norte (em italiano, Lega Nord per l'Indipendenza della Padania, ou simplesmente Lega Nord) conquistou o controle político sobre as regiões de Veneza e Piemonte. Durante a campanha eleitoral, os apoiadores do partido distribuíram pedaços de sabão, para serem usado, conforme eles instruíram, “após contatos físicos com imigrantes”.

Os partidos políticos descobrem o poder da islamofobia

O populismo de centro-direita, em si, não é nenhuma novidade. Ele faz parte do cenário político de vários países europeus há 30 anos, às vezes com sucesso, outras vezes não. Porém, o que é novidade é o fato de os populistas de direita terem descoberto uma questão que atrai bem mais a atenção dos eleitores do que o ódio usual contra estrangeiros e a classe política. Eles descobriram uma nova e poderosa bandeira política na resistência contra a crescente visibilidade do islamismo na Europa. Esses partidos se apresentam aos eleitores como os defensores de valores europeus e, no entanto, tanto eles quanto os seus eleitores parecem pouco se importar com o fato de esses valores como, por exemplo, a liberdade de religião, estarem sendo pisoteados durante a sua luta.

O temor de que os imigrantes muçulmanos possam modificar a natureza da sociedade europeia penetra profundamente no seio da sociedade. Nas pesquisas de opinião pública realizadas na Alemanha, cerca de três quartos dos entrevistados afirmaram estar preocupados com a influência do islamismo. Sentimentos similares são manifestados em outros países, ainda que a imigração na Europa esteja em queda há anos.

As práticas bárbaras em alguns países muçulmanos – nos quais as mulheres são obrigadas a usar burcas, os homossexuais masculinos e femininos são perseguidos e as adúlteras apedrejadas, tudo isso em nome da religião – são, sem dúvida alguma, profundamente contrárias aos modernos valores europeus. E é muito claro também que muitos países enfrentam sérios problemas para integrarem imigrantes às suas sociedades. Mas esses fatores por si sós não explicam todo esse desconforto. Esse mal-estar parece ser derivado do fato de os partidos tradicionais não terem sido capazes de transmitir aos eleitores a sensação de que estão tentando resolver esses problemas. A crise econômica dos últimos dois anos também deixou a classe média nervosa. A população europeia está envelhecendo, e as regiões do mundo com populações mais jovens estão alcançado a Europa. Muita gente anda preocupada quanto ao futuro em um mundo globalizado, no qual o equilíbrio de poder está sofrendo modificações.

Declínio dos partidos tradicionais de centro-esquerda

Nos países do norte da Europa, em particular, a ascensão dos populistas é acompanhada pelo declínio do apoio aos partidos social-democratas tradicionais de centro-esquerda. Isso se deve em parte ao fato de os imigrantes terem a mesma propensão exibida por quaisquer outros indivíduos de abusar do sistema de bem-estar social promovido pelos partidos social-democratas. Mas o problema deve-se também ao fato de os partidos tradicionais não terem feito progressos em relação aos detalhes das políticas de integração.

Eles criaram especialistas em integração, departamentos de imigração e conferências de integração, mas perderam de vista as preocupações dos seus cidadãos. E por serem também favoráveis à liberdade de expressão, ao feminismo e ao secularismo, eles são incapazes de se defender da retórica dos populistas de direita, que citam esses mesmos valores ao defenderem a sua batalha contra símbolos muçulmanos como os lenços de cabeça, os minaretes e as mesquitas. A única diferença é que os populistas de direita são mais barulhentos e simplificam essas questões até que a sua posição pareça ser lógica.

Os Democratas Suecos, que têm as suas origens na extrema direita, aprenderam as suas lições com modernos populistas de direita como Wilder, e também com o Partido do Povo Holandês (em holandês, Dansk Folkeparti, ou DF) e a sua líder, Pia Kjaersgaard. Durante a recente campanha eleitoral, os democratas suecos colocaram na televisão uma propaganda eleitoral mostrando uma mulher idosa caminhando penosamente com o auxílio de um andador e sendo quase pisoteada por mulheres de burca empurrando carrinhos de bebê. As mulheres de burca seguem apressadamente na direção de um balcão com a inscrição “Orçamento do Governo”. “Em 19 de setembro você poderá pisar no freio da imigração – e não no freio da aposentadoria”, diz uma voz na propaganda.

O conservadorismo encontra-se com as políticas de esquerda

Jogar imigrantes contra pensionistas é uma das táticas usadas por Wilder. Ele mistura políticas de direita e de esquerda, a islamofobia e o medo da exploração do estado de bem-estar social. “Este é um dos nossos maiores sucessos, esta combinação de conservadorismo cultural e esquerdismo em relação a outras questões”, afirma Wilders, que se considera um indivíduo contrário à imigração, mas “com um espaço no coração para os fracos e os idosos”.

Wilders foi um dos primeiros políticos a utilizar consistentemente o islamismo como questão eleitoral, e muita gente seguiu esse exemplo. É revelador o fato de o movimento anti-islâmico não ter crescido logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2010, ainda que os atentados tenham sido o principal desencadeador do medo e da incerteza atuais em relação ao terrorismo muçulmano. Na verdade, esse movimento só chegou ao seu clímax nos dias de hoje, anos depois dos ataques.

Aparentemente, a nova direita tem pouca coisa em comum com a velha direita, ainda que o primeiro político europeu direitista tenha investido contra os muçulmanos já nas décadas de setenta e oitenta. Esse político foi Jean-Marie Le Pen, o fundador da Frente Nacional da França, que escolheu como alvos os imigrantes oriundos das ex-colônias francesas do Norte da África. Le Pen construiu a sua carreira apresentando-se como uma furiosa figura política que não pertencia ao establishment político tradicional. Ele era primitivo e antiquado, muitas vezes racista e antissemita, e mesmo assim conseguiu provocar um impacto no cenário político francês. No primeiro turno das eleições presidenciais de 2002, Le Pen chegou a obter mais votos do que o candidato socialista, Lionel Jospin. Isso foi um choque para a elite francesa.

O que aconteceu na França ocorreu também, desde então, em vários outros países; nações nas quais os partidos tradicionais procuraram neutralizar a extrema direita: os políticos centristas deslocaram-se para a direita. Foi isso o que ocorreu na Dinamarca, onde o Partido do Povo Dinamarquês apoia no parlamento um governo minoritário de direita liberal desde 2001. E ainda que os populistas não façam parte do governo, a Dinamarca adotou leis de imigração consideravelmente mais rígidas.

A Nova Frente Nacional da França


Quando o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, deu início à sua campanha eleitoral em 2007, foi difícil distinguir parte da sua retórica daquela usada por Le Pen. Por exemplo, ele afirmou que pessoas que “matam carneiros em banheiras” não são bem vindas na França, e ganhou a eleição porque uniu os votos da direita. Agora Sarkozy provavelmente irá se confrontar em breve com uma nova Frente Nacional, uma versão diluída – mas talvez mais perigosa – da frente original. Marine Le Pen, a filha do fundador do partido, fará campanha para o líder do partido em janeiro do ano que vem e pretende criar um partido que seja também capaz de atrair o centro político.

Marine Le Pen se considera uma pessoa não dogmática e intelectual. Ela usa trajes executivos e distribui beijos durante as suas peregrinações de campanha pelos mercados na área metropolitana de Paris. “Eu quero unir todos os franceses”, afirma Marine Le Pen. Ao mesmo tempo, da mesma maneira que Wilders, ela ataca a burca e a islamização do país. Ela foi mais uma a reconhecer que o apelo à islamofobia é uma tática mais promissora do que a tradicional xenofobia.

Marine Le Pen representa uma ameaça a Sarkozy, cuja guinada para a direita neste ano demonstra como o presidente francês leva essa ameaça a sério. O debate lançado por ele na França sobre a “identidade nacional” é claramente dirigido contra os muçulmanos, e ele também deu início a uma campanha pela deportação dos ciganos. Até o momento essas táticas em nada beneficiaram Sarkozy nas pesquisas eleitorais.

Tomando ideias emprestadas

A transformação da Frente Nacional é apenas um dos exemplos da nova onda anti-islâmica que varre os partidos populistas de direita da Europa Ocidental. Essa é a questão que une todos esses partidos através da Europa, que chegam até a tomar emprestadas as ideias de marketing dos seus congêneres de outros países. Por exemplo, o Partido Libertário da Áustria (em alemão, Freiheitliche Partei Österreichs, ou FPÖ) copiou um jogo do website do Partido do Povo Suíço (em alemão, Schweizerische Volkspartei, ou SVP; em francês, Union Démocratique du Centre; e em italiano, Unione Democratica di Centro, ou UDC), no qual os jogadores atiram contra minaretes muçulmanos que se destacam em uma paisagem familiar. A única diferença é que a versão austríaca inclui também uma opção que possibilita atirar nos muezins.

Esse fenômeno não é novo, e ele não é capaz de ocultar o fato de que ainda existem várias diferenças entre os partidos que estão sendo agregados sob a égide do populismo de direita. É verdade que a maioria desses partidos sempre foi contrária à imigração, posicionou-se contra a elite política, contou com líderes carismáticos e teve um desempenho particularmente bom em países nos quais os partidos tradicionais cultivam uma cultura de consenso. Mas um neoliberal de raízes rurais como o político suíço Christoph Blocher, do SVP, tem pouca coisa em comum com Marine Le Pen, a demagoga francesa. As suas origens são muito diferentes, da mesma forma que vários detalhes referentes às suas políticas.

O que faz deles aliados ideológicos é a visão comum do islamismo como o inimigo. Mesmo assim, é improvável que esses partidos continuem a cooperar no futuro através das fronteiras nacionais, apesar do sonho de Wilders de liderar um movimento desse tipo por toda a Europa. A “Aliança Internacional da Liberdade”, criada por ele em julho último, tem duas metas: “defender a liberdade” e “conter o islamismo”. Em um vídeo que atualmente é o único conteúdo do website da aliança, Wilders afirma que deseja agregar as forças contra o islamismo existentes na Alemanha, na França, no Reino Unido, no Canadá e nos Estados Unidos.

Quando foi questionada sobre a iniciativa de Wilders, Marine Le Pen declarou a “Der Spiegel”: “Sem uma revolução conjunta, a nossa civilização estará condenada”. Isso pode ser um reconhecimento de metas comuns, mas não dá a impressão de que ela necessariamente deseje juntar-se à organização de Wilders.

Cobrando preços elevados para discursar

Até o momento, Wilders só teve sucesso no exterior junto a grupos islamófobos de direita nos Estados Unidos. A convite desses grupos, ele viaja há anos pelos Estados Unidos, coletando contribuições para a sua suposta batalha pela defesa da liberdade de expressão e fazendo palestras para fãs entusiasmados – e também cobrando, no decorrer deste processo, um preço elevado pelos seus discursos.

David Horowitz, um jornalista conservador milionário com posições anti-islâmicas, disse à rede de televisão holandesa Avro que paga US$ 20 mil (R$ 34,2 mil), para assistir a cada palestra de Wilders. Horowitz descreve Wilders como o “Winston Churchill da guerra contra o islamismo”. No nono aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, Wilders participou de uma manifestação no Marco Zero, quando pronunciou-se contra a planejada construção de uma centro comunitário muçulmano a dois quarteirões do local dos atentados terroristas.

As plateias norte-americanas são mais entusiasmadas do que as de qualquer outro país em relação a Wilders, que conta a elas histórias de horror sobre como os muçulmanos se infiltraram na Europa. Os muçulmanos representam apenas 1% da população total dos Estados Unidos, e enquanto o ódio dos eleitores dos populistas direitistas europeus é direcionado contra imigrantes reais nos seus países, os grupos conservadores norte-americanos cultivam uma “islamofobia sem muçulmanos”. Cerca de 50% dos norte-americanos afirmam atualmente ter uma impressão negativa em relação ao islamismo, uma percentagem superior àquela registrada logo após os atentados de 11 de setembro de 2001.

“Obrigado, Thilo Sarrazin!”

Neste final de semana, Wilders estará em Berlim como representante de um movimento político para o qual já parece existir um mercado na Alemanha, ainda que atualmente esse movimento careça de um divulgador eficiente.

Sem dúvida haverá uma plateia quando o ex-político da CDU, René Stadtkewitz, saudar Wilders em Berlim. O polêmico site alemão “Politicamente Incorreto”, há anos um local de encontro para os críticos mais radicais do islamismo, está promovendo intensamente a visita de Wilders. O website está até vendendo camisetas, a 19,90 euros (R$ 46,16) cada, com a inscrição “Geert Wilders – Berlim – 2 de outubro de 2010” - disponível em 19 cores diferentes.

Não há camisetas de Stadtkewitz à venda, embora o website venda camisetas com a inscrição, “Obrigado, Thilo Sarrazin!”.

Norte-coreanos reforçam poder da família do líder

Suposta foto de Kim Jong Un
Kim Jong Il, o líder supremo da Coreia do Norte, deu novos passos na terça-feira para assegurar que sua família permaneça no comando após sua morte, mas a maior mudança na liderança em uma geração produziu até o momento mais intriga política do que sinais de uma mudança real na Coreia no Norte, um dos países mais isolados do mundo.

Kim elevou sua irmã e um amigo próximo para o posto militar mais elevado e fez com que seu filho mais novo e aparente herdeiro, Kim Jong Un, se tornasse membro do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores do governo.

As promoções ocorreram um dia após o Kim mais jovem também ter se tornado um general de quatro estrelas, aparentemente visando assegurar uma sucessão na dinastia que daria a Kim Jong Un, que supostamente teria 20 e tantos anos, tempo para consolidar seu poder.

A elevação do completamente desconhecido Kim, e pistas de que outros membros do clã Kim exercerão o poder nos bastidores em um tipo de regência comunista, aumentam a incerteza em relação à Coreia do Norte. O país parece ter abandonado suas reformas econômicas incipientes e tem se recusado a participar de novas conversações internacionais a respeito de seu programa de armas nucleares, deixando seus vizinhos e os Estados Unidos alarmados com suas intenções.

Poucos analistas alegam entender plenamente o funcionamento interno das forças armadas norte-coreanas ou a dinastia Kim. Mas muitos que acompanham o país atentamente dizem ver poucos sinais de que a sucessão produzirá uma liderança estável e crível que, ao menos inicialmente, seria confiante o bastante para se engajar com o mundo exterior ou desviar recursos para o desenvolvimento econômico, e não para as forças armadas.

“Nós nos preocupamos com o Paquistão, mas isto é potencialmente tão desestabilizador quanto o Paquistão”, disse William R. Keylor, um professor de relações internacionais da Universidade de Boston. “A sucessão na Coreia do Norte seria apenas uma excentricidade se não fosse pelo fato de estarmos lidando com um país com armas nucleares e sistemas de entrega. Isto é o que torna isso sério.”

O temor de instabilidade também ocorreu após a morte de Kim Il Sung, o líder fundador da Coreia do Norte, e a ascensão de seu filho, Kim Jong Il, em 1994. O país não sofreu um colapso na época, apesar de seu desempenho econômico ter se deteriorado acentuadamente e milhões de norte-coreanos terem supostamente morrido de fome durante o governo errático de Kim Jong Il.

Desta vez o país parece menos preparado para uma transição. Kim Jong Il teve 14 anos entre sua introdução política em 1980 e a morte de seu pai, tempo que ele usou para desenvolver apoio internamente. Havia poucos sinais de que um processo sucessório tinha começado quando Kim Jong Il, atualmente com 68 anos, aparentemente sofreu um derrame há dois anos.

Alguns analistas preveem que os novos líderes podem se sentir compelidos a provar suas credenciais nacionalistas, realizando ações provocativas que poderiam piorar as tensões com a Coreia do Sul, Japão e o principal aliado destes, os Estados Unidos. Em março, a Coreia do Sul acusou o Norte de afundar um de seus navios de guerra, o Cheonan, o que alguns analistas disseram parecer ter sido uma demonstração de força, visando persuadir os militares a respeitarem o Kim mais jovem.

“A pergunta agora é se farão coisas perigosas como o Cheonan ou outra coisa para manter o regime unido”, disse Victor Cha, diretor de estudos asiáticos da Universidade de Georgetown. “Eles já são instáveis, mas esta questão da sucessão os torna ainda mais imprevisíveis.”
Na situação mais desestabilizadora, uma disputa interna de poder poderia levar ao colapso do governo. Mas muitos observadores descartam essa possibilidade, em grande parte devido ao apoio de outro vizinho, a China.

Pequim deixou claro que está determinada a evitar uma erupção política em suas fronteiras. Ela tem adotado medidas consistentes para ajudar a Coreia do Norte quando esta enfrentou escassez severa de alimentos e energia, assim como buscou assegurar que as sanções internacionais, visando punir o Norte pelo desenvolvimento de armas nucleares, não fossem debilitantes.

Kim Jong Il fez duas visitas à China nos últimos meses para reforçar seu apoio. A China disse que o Kim mais jovem não fazia parte da delegação de seu pai em visita ao país há um mês, mas autoridades americanas disseram acreditar que o filho esteve presente na viagem e pode ter se encontrado com as autoridades chinesas informalmente.

“O que preocupa mais a China é a estabilidade, a estabilidade da Coreia do Norte, da Península Coreana e do Nordeste da Ásia”, disse Xu Wenji, um especialista em Coreia do Norte do Instituto Nordeste da Ásia, da Universidade de Jilin. “Logo, a preocupação com a estabilidade está acima de tudo mais neste assunto para o governo chinês.”

Os motivos para a elevação da irmã de Kim Jong Il, Kim Kyong Hui, e Choe Ryong Hae, um velho amigo do líder norte-coreano e um membro de seu círculo interno, juntamente com a promoção de Kim Jong Un, são incertos.

Especialistas sugerem que os três, juntamente com o marido da irmã, Jang Song Taek, podem acabar formando um novo grupo de governo com poder para manter as forças armadas sob controle e dar continuidade à dinastia Kim, pelo menos até que o filho possa substituir plenamente seu pai.

A promoção da irmã pegou alguns analistas de surpresa. Cha, da Georgetown, disse que ela representou um reconhecimento público para alguém que já estava no poder nos bastidores da dinastia Kim. Ele disse que ela foi a confidente e a mulher mais próxima de Kim Jong Il, cujas esposas e mãe estão mortas, e que ela até mesmo cuidou do líder quando ele adoeceu.

Há pistas de que alguns moderados também ganharam poder. Kang Sok Ju, um vice-ministro das relações exteriores, foi batizado vice-primeiro-ministro, e Kim Kye Gwan, o negociador chefe do Norte nas negociações nucleares envolvendo seis países, assumiu o posto de Kang. Outro negociador, Ri Yong Ho, também foi promovido.

As autoridades americanas disseram não ter visto o suficiente para prever com confiança como a sucessão afetaria as ações e políticas da Coreia do Norte.

Kurt M. Campbell, um secretário assistente de Estado, disse aos repórteres em Nova York, na segunda-feira, que os Estados Unidos estavam “observando cuidadosamente os desdobramentos na Coreia do Norte”.

“Mas francamente”, ele disse, “ainda é cedo demais para dizer em termos de próximos passos, ou na prática, o que está acontecendo dentro da liderança do país”.

Reportagem de Martin Fackler, em Tóquio, e Mark McDonald, em Seul (Coreia do Sul). Andrew Jacobs, em Pequim (China), Choe Sang-hun, em Palo Alto, Califórnia (EUA), e David E. Sanger, em Washington (EUA), contribuíram com reportagem adicional.

O poder da China

Em abril, a Marinha chinesa mobilizou repentinamente dez navios de guerra próximos à costa japonesa e enviou helicópteros para sobrevoar navios do país vizinho. Em julho, o ministro chinês das Relações Exteriores afirmou, indignado, o direito de seu país sobre as águas internacionais no Mar do Sul da China, juntamente com algumas ilhas reivindicada por outros. No começo deste mês, um barco pesqueiro chinês colidiu com dois navios da guarda-costeira japonesa, possivelmente de propósito, levando a uma prisão por parte do Japão e uma reação furiosa de Pequim.

Junte alguns acessos retóricos – o diplomata chinês da ONU que algumas semanas atrás disse não gostar de americanos – e de fato parece que as agressões militares, territoriais e diplomáticas chinesas vêm aumentando. É um crescimento surpreendente, em grande parte porque, do ponto de vista da China, isso não faz muito sentido. Por que diabos a China deveria gritar, assediar e provocar seus vizinhos? Na década passada, a China se manteve quieta, discreta, e se comportava mais como uma multinacional do que uma superpotência mundial – e como resultado, acumulou uma enorme influência política.

Observe o mundo - os frutos desse sucesso estão por toda parte. Olhe para o Afeganistão, onde as tropas dos Estados Unidos vêm lutando por quase uma década, onde bilhões de dólares de auxílio americano foram gastos – e onde uma empresa chinesa ganhou os direitos de explorar uma das maiores jazidas de cobre do mundo. Ainda que as tropas americanas não protejam os mineiros diretamente, as tropas afegãs, treinadas e armadas pelos americanos, os protegem. E apesar de a exploração da mina ainda estar em seus estágios iniciais, os empresários e engenheiros chineses – usando roupas civis, oferecendo empregos – já são mais populares entre os locais do que o exército dos EUA, que carrega armas e fala em segurança. Os chineses pagaram caro por seus direitos de minerar o cobre e assumiram um grande risco. Mas se compensar, talvez nossa guerra contra o Taleban seja um dia lembrada como a guerra que pavimentou o caminho para a dominação chinesa do Afeganistão.

Em outras palavras, os Estados Unidos combatem, enquanto a China fecha negócios, e não só no Afeganistão. No Iraque, onde as tropas americanas derrubaram um ditador e ainda estão lutando contra a insurgência, companhias petrolíferas chinesas compraram partes maiores do que as americanas. No Paquistão, onde bilhões do auxílio militar dos EUA ajuda o governo a manter o Taleban à distância, a China montou uma área de livre comércio e está investindo pesado em energia e portos.

A China achou lucrativo ficar de fora dos debates internacionais também. Os americanos, junto com outros europeus ocidentais, estão despejando enormes quantias de dinheiro público e privado em energia solar e eólica, esperando se livrar dos combustíveis fósseis e prevenir a mudança climática. A China, em compensação, constrói uma nova fábrica movida a carvão a cada 10 dias. Enquanto produz cada vez mais gases de efeito estufa no Oriente, a China sabe bem usar os subsídios do governo no Ocidente: três empresas chinesas constam entre os 10 maiores produtores de turbinas eólicas do mundo.

Os chineses também cercaram discretamente o mercado de terras-raras, metais de nomes adoráveis (promécio, itérbio) vitais para a produção de celulares, lasers e computadores – sem falar em carros híbridos, painéis solares e turbinas eólicas. Apesar de a China não controlar as reservas mundiais desses elementos, sendo que alguns deles nem são tão raros assim, minerá-los é um trabalho sujo, que requer muita mão de obra e é ideal para ser explorado em um país com baixos salários e padrões ambientais mais baixos ainda. Ninguém mais consegue competir, e é por isso que a China agora controla 99% do suprimento mundial de alguns desses elementos.

É claro, se eles estiverem inclinados a isso, seu monopólio poderia ser usado para elevar os preços de painéis solares e celulares – e não só. Na semana passada, os japoneses revelaram que a China parou de despachar terras-raras para o Japão como retaliação pela detenção daquele pescador chinês pelos japoneses. Agora parece que o problema nos fornecimentos teve a ver com um feriado chinês – ou pelo menos é o que os chineses afirmam - mas os mercados e os especialistas soaram um alarme atrasado mesmo assim.

O que me leva de volta ao meu argumento inicial: por que diabos os chineses estão fazendo jogos militares com o Japão, ameaçando o sudeste asiático, ou simplesmente entrando na política? Quando eles ficam quietos, nós os ignoramos. Quando ameaçam fazer boicotes ou usam linguagem nacionalista, ficamos com medo e reagimos. Ainda não entendemos que o mais assustador na China não é o tamanho de sua Marinha ou a arrogância de seus diplomatas. O mais assustador é o poder que a China já acumulou sem nunca ter mobilizado seus militares ou diplomatas.

Guerra e paz

Com a missão de transpor territórios inimigos, assegurar fronteiras e montar estratégias de defesa e ataque, geografia militar tem sua trajetória traçada por geógrafo e pesquisador brasileiro

Foi um fracasso total. Uma das mais famosas fortificações militares de defesa, a Linha Maginot (leia Para saber mais), criada na França na década de 1930 para repelir possíveis ataques alemães teve um custo estratosférico, levou anos para ser construída e, na hora do vamos ver, se mostrou totalmente inútil. A Maginot não impediu que o exército alemão (Wehrmacht) ocupasse a França e Hitler posasse para fotos embaixo do Arco do Triunfo, para enorme desilusão dos franceses.

Esse grande episódio da história moderna é lembrado pelo professor e geógrafo Filipe Giuseppe Dal Bó Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Ele pesquisou a trajetória da geografia militar desde o século 19 e, no mês passado, apresentou suas conclusões. Ele aponta uma possível forma de aproximação com a geografia acadêmica no Brasil, por meio de informações que contribuam para organizar a defesa do território do país, em especial na Região Amazônica. O geógrafo levantou a bibliografia existente sobre o tema no Brasil, concentrada em instituições militares.

De acordo com Dal Bó, “o fracasso da Linha Maginot talvez seja o marco do fim da antiga geografia militar, aquela mais topográfica e imbuída de antigas doutrinas sobre a tática militar”. Ele acredita que o marco da nova geografia militar foi a grande Batalha da Normandia (também na Segunda Guerra), que coordenou, de maneira vitoriosa, a travessia das tropas aliadas do Canal da Mancha, numa área muito bem protegida pelos alemães, por meio de uma logística bem estabelecida. “O chamado ‘dia D’ deve ser considerado um marco para a nova geografia militar, pois os fatores geográficos foram ponderados e os obstáculos naturais transpostos por um bom planejamento e por uma boa engenharia militar”, pontua.

Questionado sobre a importância do estudo e da aplicação da geografia militar nos dias atuais, o professor diz que “o conhecimento do território é uma das matérias fundamentais que todo o comandante e seus encarregados devem estudar”. “É importante, desde o comando das menores unidades de combate até os mais altos escalões, onde se discute a estratégia e se desenvolve o conhecimento da geografia. Não podemos considerar apenas as condições do terreno, mas do território com todas as suas complexidades. Toda solução para uma situação tática ou estratégica requer o conhecimento prévio do cenário de onde vai se atuar”, acrescenta.

Dal Bó acredita firmemente que no Brasil esse estudo é fundamental, pois trata-se de um país de dimensões continentais e que tem uma enorme fronteira se relacionando com quase todos os países de seu continente, com exceção de Chile e Equador. “Além de um dos maiores litorais contínuos e navegáveis do mundo, um dos mais extensos mares territoriais e de um espaço aéreo também grandioso, o Brasil é um país muito diverso no que se refere ao relevo, vegetação e solos; com extensas redes hidrográficas que poderiam funcionar como um fator de integração; uma população de quase 200 milhões de pessoas e um território ainda pouco ocupado. É necessário que haja uma contribuição da ciência acadêmica, e nesse caso, a geografia é aquela que muito pode contribuir, por tratar da interação de todos os fenômenos espaciais, tanto físicos quanto humanos e de como eles transformam a organização do território”, diz.

Ele acrescenta que no campo da geografia não há escolas no Brasil que tratem do tema, mas sim instituições militares, como a Escola de Comando do Estado Maior do Exército e a Escola Superior de Guerra. “A questão da Amazônia não é apenas restrita às suas fronteiras, mas é claro que elas chamam atenção pela sua extensão e pela sua diversidade. Portanto é assunto que deve ser estudado pela geografia militar”, diz.

Inimigos do Brasil? Professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e uma das maiores autoridades brasileiras em estratégia militar, o coronel Geraldo Cavagnari, 76 anos, é rápido para devolver a seguinte pergunta: se o Brasil não tem inimigos declarados, por que se preocupar com a defesa do território? “Me diga então quem é o inimigo da França?”, questiona o militar reformado do Exército. Ele mesmo emenda a resposta: “Veja bem, a França não tem nenhum inimigo exposto, mas tem um dos mais modernos exércitos do mundo. Esse é o verdadeiro sentido da segurança nacional. Temos sempre que ter a chamada ‘pronta resposta’”, explica, com a autoridade de quem já foi comandante de inteligência do Exército.

Ele explica que o segmento da geografia militar no Brasil floresceu no começo da década de 1920, com chegada de uma missão militar francesa ao país que teve como tarefa modernizar o Exército. “Essa missão ficou aqui por quase 20 anos, treinando e modernizando nossas tropas, imbuindo o sentimento de organização e estratégia”, explica.

Num cenário de confronto hipotético em fronteiras brasileiras, ele aponta as Forças Armadas da Colômbia como um poderoso inimigo, mas faz ressalvas. “A Colômbia tem um exército moderno e muito bem equipado, treinado inclusive para a guerra de selva. Mas não tem efetivo suficiente para uma penetração profunda. Não teria fôlego para uma ocupação”, decreta.

Outro inimigo, ainda no campo das hipóteses, seria uma aliança de países ao Sul do Brasil, como Paraguai, Uruguai e Argentina. “Essa aliança até poderia ocupar, num primeiro momento, partes do Rio Grande do Sul e do Paraná, mas também não teriam efetivo e força suficiente nem para uma penetração maior em nosso território nem para mantê-la”, argumenta. Cavagnari lembra que para o Brasil obter a tão almejada cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem que ter Forças Armadas fortes. “Note que já somos uma potência econômica, mas teremos que ser, igualmente, uma potência militar”, conjectura.

Para saber mais
Bastou um desvio

 A Linha Maginot (o nome é homenagem ao engenheiro que a projetou), na França, tinha fortificações, vias subterrâneas, obstáculos, baterias blindadas, postos de observação com abóbodas igualmente blindadas e paióis de munição a grande profundidade. Eram 108 edificações principais, distantes 15km uma da outra, edifícios menores, casamatas e mais de 100km de galerias.

Em 10 de maio de 1940, os alemães atacaram a Linha Maginot, mas concentraram o grosso de suas tropas para invadir a vizinha Bélgica, penetrando na Floresta das Ardenas, que era vista (pelo menos pelos generais franceses), como densa e intransponível, em função de suas estradas apertadas e sinuosas. Com as famosas divisões Panzer à frente, os alemães venceram a floresta e penetraram em território francês, neutralizando a linha de defesa pela retaguarda e consolidando a ocupação da França em poucos dias.

Militares do 19º Batalhão se preparam para missão no Haiti

Estudo do idioma Creole, instruções teóricas e treinamento físico são algumas etapas pelas quais os militares do 19.º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz) estão passando desde o início do mês, com o objetivo de se preparar para integrar a Missão de Paz ao Haiti. Cerca de 200 homens devem embarcar em fevereiro de 2011 para mais uma missão naquele país. Esse será o 14.º contigente a ser enviado, conforme o capitão Jefferson Della Valentina, que estará no comando do grupamento.

"Nossa função será de manter o ambiente seguro e estável no país haitiano. Faremos patrulhamento a pé e motorizado, entrega de mantimentos e segurança de autoridades. Ontem à tarde, os militares ouviram as experiências do major Flademir Alecrim da Silva Naje sobre a primeira estada do 19.º Batalhão no Haiti, em 2004. "Procuro alertar que para ajudar é preciso não interferir na cultura local e saber o mínimo do idioma deles, por exemplo, disse Naje.

Atual situação

O 1º sargento Vilso Franco chegou há um mês do Haiti. Ele conta que o país está um pouco melhor no momento. "Chegamos lá logo depois do terremoto. Estava tudo em ruínas. Agora já não há corpos espalhados e os escombros que estavam no meio das ruas já foram removidos também. Mas, calcula-se que existam um milhão de desabrigados. E estes foram levados para praças e campos de futebol. Cedido para a tropa de paraquedistas do Rio de Janeiro, Franco ajudou como intérprete na sua última missão. Falando francês, ele auxiliava nas escolas, nas reuniões com ONGs e na remoção de feridos. "O contingente que irá agora terá muito trabalho, disse Franco, que era integrante do Pelotão de Fuzileiros, no primeiro grupamento enviado pelo 19º Batalhão no ano de 2004.

Capitão irá conhecer o local

No próximo dia 16 de outubro, o capitão Jefferson Della Valentina embarca para o Haiti para fazer um reconhecimento do local onde sua tropa irá trabalhar por, pelo menos, seis meses. Para o militar, a ida ao país é uma nova experiência. "É a primeira vez que vou. A expectativa é grande para saber como vai ser o trabalho por lá, pois sabemos da pobreza extrema que vive a população. E os haitianos têm o Exército Brasileiro como uma ajuda que cai do céu. Nos admiram bastante. Além disso, penso na família que fica, relatou o capitão.

Força do Exército

O tenente-coronel Israel Guimarães de Sousa Martins, comandante do 19.º BIMtz, diz que a força do Exército é conhecido no país e no mundo por meio dessas missões. Na quinta, às 19 horas, será feita uma confraternização entre famílias dos militares que participarão da missão no Haiti. Será um momento musical com a temática Paz no Mundo, que contará com a apresentação da banda de música do 19.º BIMtz e da banda MobiPraise.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Submarino nuclear ‘Yuriy Dolgorukiy’ concluí testes em mar

Submarino Yuriy Dolgorukiy é fotografado em seu primeiro teste de mar
O novíssimo submarino nuclear lançador de mísseis balísticos russo ‘Yuriy Dolgorukiy (K-535)’ regressou hoje a base de Severodvinsk depois de concluir com êxito os testes em mar, informou um porta-voz dos estaleiros Sevmash.

“Foi uma das expedições mais longas empreendidas em 2010. Todos os sistemas e equipamentos do submarino estão funcionando bem e o pessoal mostrou um excelente estado de preparação”, disse o porta-voz.

O Comandante da Armada Russa, Almirante Vladimir Visotski, havia comentado à RIA Novosti que em 2010 esta prevista efetuar três lançamentos de teste do míssil Bulava e que  um dos lançamentos seria realizado pelo submarino “Yuriy Dolgorukiy”.

“Agora o submarino será preparado para ser apresentado a Comissão Estatal”, agregou o porta-voz dos estaleiros Sevmash.

O submergível desloca 14.720/24.000 toneladas, pode alcançar a velocidade de 15/29 nós e submergir até 450 metros de profundidade. É capaz de navegar de forma autônoma durante 100 dias sem emergir.

Agente secreta da CIA que teve identidade exposta promove filme sobre sua vida

Valerie Plame Wilson, a mais conhecida ex-espiã dos Estados Unidos, estava com aparência chique em um bustier preto e calça pantalona branca, posando para os paparazzi no tapete vermelho neste mês, em um festival de cinema de Deauville, França.

Poucos dias depois, ela estava em um salão de jantar em Santa Fé, sem maquiagem, calçando tênis e vestindo agasalho de moletom, enfrentando o jet lag enquanto cuidava do caos doméstico. Ela tinha filhos –os gêmeos de 10 anos Samantha e Trevor– para levar para a escola e um cachorro traquinas para levar para passear. Seu marido, Joe, um ex-embaixador, tinha acabado de voltar de uma viagem de negócios a Bagdá e estava ao telefone, brigando com a companhia aérea por causa de bagagem perdida. O refrigerador deles estava praticamente vazio e Samantha tinha declarado que o muffin inglês dela “horrível”.

Valerie deu uma mordida. “Fermentou”, ela anunciou, entregando o muffin ofensor ao seu marido. Ele comeu fingindo saborear, brincando que ficaria melhor com algumas larvas. A menina rolou os olhos.

Para Valerie, uma ex-agente secreta da CIA cuja exposição em 2003 envolveu a Casa Branca de Bush em um escândalo, a manhã agitada foi um precioso momento de normalidade em uma vida que teve de tudo, menos isso. Ela e seu marido fugiram da câmara de eco de Washington para Santa Fé há três anos, buscando paz e isolamento após o Caso Plame ter destruído a consultoria internacional dele, arruinado a carreira de espionagem dela e quase acabado com o casamento deles.

Agora ela está fazendo sua reentrada, desta vez em seus próprios termos.

A mulher que passou décadas protegendo sua privacidade, encontrou uma nova voz por meio de um empreendimento bastante público, o cinema, o motivo para ter estado em Deauville. “Fair Game”, um filme baseado em grande parte em sua autobiografia de 2007 de mesmo nome (estrelado por Naomi Watts como Valerie e Sean Penn como Joe), deverá estrear em novembro.

Ele poderia ser chamado de “A Espiã Que Foi para Hollywood”, mas seria algo recebido com aversão por Valerie. “Por favor, não”, ela disse, balançando a cabeça. “Nós já vimos o suficiente do mundo de Hollywood para saber que não nos interessa. É realmente um colégio com dinheiro.”

Talvez. Mas Valerie é esperta o bastante para saber que Hollywood tem um megafone muito maior do que Washington, e ela está fazendo uso dele para reafirmar sua própria narrativa e polir suas credenciais. Ela apareceu recentemente ao lado de vários líderes mundiais em “Countdown to Zero”, um documentário sobre proliferação nuclear, um assunto que ela conhecia bem, como agente da CIA à caça de armas de destruição em massa. Mas seu foco no momento é promover “Fair Game”, dirigido por Doug Liman.

O filme, que também faz uso do livro de Valerie de 2004, “The Politics of Truth”, terá sua pré-estréia em Nova York e Washington no próximo mês. Ele narra como Valerie, uma agente secreta infiltrada da CIA, teve sua identidade revelada pelo colunista conservador Robert Novak, depois que o marido dela, que tinha viajado para Níger em nome da CIA para investigar se Saddam Hussein estava interessado de armas nucleares, contestou o argumento do governo Bush para a guerra no Iraque nas páginas de opinião do “New York Times”. Um promotor especial investigou o vazamento, que levou à condenação por obstrução da Justiça de I. Lewis “Scooter” Libby, o então chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney.

Em Washington, onde o casal Wilson –especialmente Joe Wilson– continua sendo “persona non grata” nos círculos republicanos, o filme sem dúvida causará irritação. Em 1991, Joe Wilson foi o último diplomata americano no Iraque antes das bombas começarem a cair; após sua volta, o presidente George H.W. Bush o elogiou como sendo um “verdadeiro herói americano”. Mas os seguidores leais de George W. Bush o consideram um fanfarrão em busca de publicidade –“pomposo, egocêntrico, narcisista”, como escreveu Karl Rove, o ex-estrategista político de Bush, que foi poupado do indiciamento na investigação do vazamento. O advogado de Rove, Robert Luskin, prevê que o filme será um fracasso; ele diz que os Wilsons “já passaram de sua data de validade”. Joe Wilson, ainda no modo “nós contra eles”, diz que o filme “os ataca com um punhal, não com um facão de açougueiro”.

Os republicanos ainda riem da forma como o casal Wilson posou no Jaguar conversível de Joe –ele com seu braço pendurado para fora, ela mascarada com um lenço de cabeça e óculos escuros– para a revista “Vanity Fair” no auge do escândalo. A foto, assim como uma série de charges políticas autografadas, está pendurada no banheiro de hóspedes da casa dos Wilsons em Santa Fé, um dos poucos sinais da vida deles em Washington. (O Jaguar se foi; Valerie insistiu para que seu marido o vendesse quando se mudaram.)

Apesar de ser um filme político, “Fair Game” também é pessoal, a história das tensões que quase separaram o casal quando ele acusou publicamente a Casa Branca de Bush de “campanha de difamação”, enquanto ela permaneceu em silêncio, temerosas por seus filhos e por seus “ativos” da CIA, pessoas que ela cultivou no exterior. Enquanto a carreira dela era arruinada e os clientes da consultoria dele o abandonavam, como Valerie escreveu em seu livro, eles lutavam para “impedir a lenta dissolução do casamento”.

Para Liman, o diretor do filme, cujos créditos incluem “A Identidade Bourne”, foi a Valerie Wilson elusiva que foi particularmente cativante. “Ela é claramente uma sobrevivente”, ele disse. “Ela definitivamente amava sua vida de espiã e trabalhou arduamente para chegar à posição em que estava, e tudo isso foi tirado dela. Mas você não sente que ela guarda algum ressentimento.”

Ela diz que de fato não guarda, apesar de que ao seu próprio modo controlado ela ainda se agita com o que chama de “manual republicano, me denegrindo e desacreditando o Joe”. Os temores com a segurança persistem: para este artigo, Valerie concordou em ser fotografada do lado de fora de sua casa, não dentro, e seus filhos estavam fora dos limites.

Santa Fé é, física e geograficamente, muito afastada do clima político tóxico de Washington, o motivo para os Wilsons terem se mudado para cá, para uma ampla casa na encosta, com vista para as Montanhas Sangre de Cristo. Álamos margeiam a entrada da garagem, flores silvestres florescem no outono e o alimentador para beija-flor deles certa vez atraiu um urso. Valerie conheceu a cidade graças a viagens de trabalho ao Laboratório Nacional de Los Alamos próximo; ela e seu marido deixaram Washington assim que o julgamento de Libby acabou.

“Nós meio que olhamos um para o outro e dissemos: ‘Por que estamos aqui?’” ela disse, durante uma caminhada matinal com o cachorro. “Nós não tínhamos emprego. Não tínhamos família lá. Simplesmente parecia...” Sua voz para, mas a sentença não precisa ser concluída. Eles precisavam escapar para sobreviver.

Os primeiros meses aqui foram um borrão, se afligindo com as contas enquanto “vivia aérea”. Eles conheceram o diretor da Ópera de Santa Fé, que ficou encantado com Trevor e o escalou como um pajem de Falstaff. Joe Wilson se transformou em um “pai de ópera”, disse sua esposa, “permanecendo durante todo o ensaio, sentado no fundo, cultivando uma barba”.

Hoje, Valerie Wilson mal consegue caminhar pelas ruas de Santa Fé sem chamar atenção. Quando ela chegou para almoçar em um café local, a recepcionista ficou fora de si.

“Naomi Watts! Espetacular! Como você se sente?” disse a mulher de modo efusivo.

“Um pouco nervosa”, respondeu Valerie.

Os Wilsons tinham acabado de chegar da igreja, onde contaram sua história para idosos. Na cidade na qual a proporção de votos foi de 3 para 1 a favor do presidente Barack Obama, o público, sem causar surpresa, é amistoso. A principal pergunta: “Por que Dick Cheney e George Bush não estão na cadeia?”

Quando a conversa acaba, um cavalheiro se aproximou e enfiou a mão em uma pequena bolsa. Valerie Wilson o olhou de modo desconfiado enquanto ele retirava duas castanhas –amuletos de sorte, ele disse. Ele perguntou sobre qual escola os filhos dela frequentavam.

“Uma escola pública local”, responde Valerie de modo vago. O homem insistiu, dizendo ser um educador aposentado. Ela o avaliou e cedeu, dizendo o nome da escola.

Posteriormente, no café, tomando champanhe e comendo uma fritada de legumes, ela conversou sobre a passagem de espiã privada para figura pública. Ela se sente “mais integrada” agora, ela disse. Uma coisa que ela aprendeu: “Eu não sou boa em confrontos, mas melhorei em defender meu espaço”.

As portas de Hollywood estão abertas. “Countdown to Zero” lhe ofereceu uma chance de colocar sua perícia na CIA em uso na esfera pública –e fazer amizade com Meg Ryan e com a rainha Noor da Jordânia, defensoras da eliminação das armas nucleares. Ambos os filmes a levaram a Cannes neste ano, onde Giorgio Armani deu uma festa em seu iate para “Fair Game” e onde Valerie caminhou pelo tapete vermelho com Naomi Watts ao seu lado. Na pré-estreia de “Countdown” em Nova York, em julho, ela conversou com Whoopi Goldberg e Elisabeth Hasselbeck no programa “The View”.

Mas quando “Countdown to Zero” foi exibido na sede da CIA em Langley, Virgínia, em um auditório protegido conhecido como A Bolha, Valerie não estava lá.

“Eu não fui convidada”, ela disse com tristeza. “Teria sido estranho.”

Ambos os Wilsons foram consultores em “Fair Game”, se revezando no set em Nova York para que o outro pudesse ficar em casa com os gêmeos. Penn os visitou em Santa Fé (eu o fiz lavar a louça após o jantar”, disse Valerie) e ela e Watts agora são amigas, trocando “e-mails engraçados de fofoca”, disse a atriz.

“Esta é a vida nova dela, uma que ela não escolheu, mas por que não deveria desfrutá-la e abraçá-la?” disse Watts. “Ela está usando sua voz e suas crenças.”

Ainda assim, ela parece relutante em abraçar. Espiões não se revelam facilmente e existe muito mais a respeito de Valerie do que ela pode revelar. Seu livro foi publicado com grandes partes censuradas após uma longa batalha legal com a CIA e ela está atada ao seu acordo de sigilo. Perguntas sobre seu trabalho –ou se certas cenas em “Fair Game” são verdadeiras– são recebidas com sobrancelhas levantadas e com a resposta padrão: “Eu não posso dar detalhes específicos”.

Aos 47 anos, Valerie deseja que sua história seja conhecida, mas não deseja que o escândalo a defina para sempre. “É um pedaço de nossa história, mas não ela toda”, ela diz. No ano passado, o marido dela, atualmente com 60 anos, se tornou presidente da subsidiária africana da Symbion Power, uma construtora, e Valerie trabalha meio expediente com contato comunitário do Instituto Santa Fé, uma organização de pesquisa científica. Ela também está colaborando com Sarah Lovett, uma escritora local, em –o que mais?– um romance de espionagem.

Mas por ora ela tem um filme para promover. Na volta de Deauville, ela parou em Paris para entrevistas e visitou o salão de chá Mariage Frères em Marais. Ela disse ter desejado o tempo todo que Trevor e Samantha estivessem lá. Ela queria beber limonada com eles no Café de Flore, e levá-los ao topo da Torre Eiffel.

Bósnia adia reconstrução pós-guerra e parece fadada a repetir o passado

Tucídides uma vez escreveu que a guerra é uma professora violenta – querendo dizer, suponho, que se deve aprender com brutalidades do passado. No entanto, os Bálcãs, um lugar que sofreu demais o horror, parecem fadados a repetir o passado. A guerra que estripou a Bósnia terminou há mais de 15 anos, entretanto o processo de reconciliação está longe de ser completo. A reconstrução do pós-guerra é sempre um desafio, mas a Bósnia vem a adiando em níveis inacreditáveis. Por quê?

Quando os líderes da Bósnia se sentaram em uma monótona base aérea de Ohio em dezembro de 1995 e assinaram os Acordos de Dayton, encerraram três anos de brigas que devastaram a pequena e confinada república e mataram cerca de 100 mil bósnios. Eu cobri aquela guerra, e voltei para o país várias vezes – especialmente à capital, Sarajevo, que sofreu um sítio de 1.425 dias. Hoje a fumaça, o cheiro de queimado e as multidões de pessoas maltrapilhas aglomeradas em esquinas esperando para fugir do ataque de atiradores são só lembranças.

No entanto, há uma sensação de que tudo pode estourar novamente. Quando eu pergunto a meus amigos bósnios sobre a possibilidade de uma volta da violência, alguns se horripilam, mas outros concordam e me dizem que os motoristas de táxi de Sarajevo – 90% dos quais são ex-combatentes – falam a respeito constantemente. A Bósnia realizará eleições parlamentares e presidenciais em 3 de outubro, e a campanha está produzindo hostilidades. Apesar de um esforço internacional de reconstrução que custou cerca de 4 bilhões de libras, a Bósnia está uma bagunça. Sua economia está capengando; a corrupção e as divisões étnicas são abundantes.

Talvez isso não seja de se espantar, visto o que aconteceu ao povo. Um amigo, que era um comandante de linha de frente durante a guerra, uma vez descreveu a transição que ele teve de fazer. “Que diabos sabia eu sobre a guerra? Sou um advogado”, disse. Mas ele tinha “uma ótima coordenação de mãos e olhos”, que ajudava quando ele teve de começar a usar armas. Pessoas como ele, sem nenhuma inclinação para combates, de repente se viram defendendo suas ruas, sua vizinhança, sua cidade. Quando a guerra acabou, essas mesmas pessoas foram jogadas para um período de paz. E a vida na paz nunca é tão simples quanto parece quando você está sentado em uma trincheira desesperado para que a guerra termine.

A guerra na Bósnia foi parte do colapso da Iugoslávia entre 1991 e 1995. O Acordo de Dayton encerrou a guerra, mas cristalizou as divisões étnicas que criou. O novo Estado ao qual ele deu origem, a Bósnia-Herzegóvina, foi dividido em duas partes: a Republika Srpska para sérvios, e a Federação Bósnia para muçulmanos e croatas. Cada uma tem uma miríade de camadas de governo; a Federação Bósnia é subdividida em 10 cantões, ou condados. Sarajevo ainda é a capital, mas as duas entidades menores têm mais poder que o Estado, bem como seus próprios presidentes, parlamentos, governos e representantes. As entidades controlam a justiça, o comércio, a educação, a saúde e a manutenção da ordem, e o Estado cuida da alfândega, do financiamento de instituições, do exército e do controle de tráfego aéreo. Tudo isso em um país com cerca de dois terços da área da Escócia, e, com uma população de 4,6 milhões, um pouco menos de gente. Não é de se surpreender que o acordo tenha gerado tensão e brigas internas. “Dayton parou a guerra”, diz um diplomata. “Mas não adianta nada se você para a guerra e tem brigas políticas acontecendo continuamente”.

Até agora, a Bósnia tem sido vigiada pela comunidade internacional sob forma do Escritório do Alto Representante (OHR, na sigla em inglês), criado para representar e proteger o Estado. O OHR, que foi dirigido por Paddy Ashdown – um ex-líder dos Democratas Liberais do Reino Unido – entre 2002 e 2006, deve trabalhar com comunidades para “garantir que a Bósnia se torne uma democracia pacífica”. Mas os bósnios o veem com desconfiança e supostamente há planos para descartá-lo em favor de um enviado europeu mais poderoso que poderia forçar a aprovação de uma nova ordem constitucional.

Haveria bons motivos para uma jogada como essa. No mínimo porque as divisões étnicas na Bósnia têm piorado desde que a guerra acabou. O problema é que o sistema agora reforça, em vez de minimizar, as diferenças étnicas. Um novo termo foi cunhado após a guerra para descrever os bósnios muçulmanos: bosniaks. E agora há muitas escolas na Federação Bósnia que segregam seus alunos. A suposição parece ter sido que um certo grau de separação étnica seria inevitável após a guerra, mas que com o tempo a confiança voltaria e a mistura na interação surgiria espontaneamente. Mas isso não aconteceu.

A situação econômica não ajudou. O desemprego está em 40% e a renda média na Bósnia é inferior a 5 mil libras por ano, então os jovens não viajam pelo país e veem como os outros vivem.

Sarajevo, que já foi uma inspiração para a mistura étnica, agora é predominantemente muçulmana. As muitas mesquitas, construídas depois da guerra, ficam lotadas. A cidade é inundada por refugiados muçulmanos do leste da Bósnia, muitos deles analfabetos, que foram expulsos de seus vilarejos por nacionalistas bósnios sérvios. A Federação Bósnia se tornou um pequeno Estado muçulmano na Europa.

Se você perguntar às pessoas que vivem na Federação Bósnia a respeito de Dayton, a maioria reclamará. Eles sentem que os políticos os abandonaram, que as linhas de frente congelaram após a guerra, e que os valentões foram recompensados. Mas na Republika Srpska as pessoas provavelmente defenderão Dayton. “É a Bíblia deles”, disse Tanja Topic, uma analista política de Banja Luka, capital da Republika Srpska. “Porque ele criou seu país. Ele os define”.

O cerne do problema político é o desequilíbrio de poder entre as duas entidades e o Estado. Ele resultou em uma briga pueril entre Haris Silajdzic, o presidente muçulmano da Bósnia, e Milorad Dodik, primeiro-ministro sérvio da Republika Srpska. Dodik sugerirá – ou até dirá, como fez em 2006 – que a Republika Srpska deixará a federação. Silajdzic responderá que eles estão unidos por Dayton. Quando perguntei a Silajdzic se Dodik estava falando sério a respeito de deixar a federação, ele disse: “Talvez ele queira”. Então ele fez uma pausa e sorriu. “E talvez eu queira comprar o Havaí”.

Dayton poderia ter feito mais para ajudar a dissolver as divisões étnicas, mas os bósnios também têm uma responsabilidade à qual muitos não estão correspondendo. “Ninguém aqui tem culpa coletiva”, disse uma instruída jovem bósnia sérvia em um café de Banja Luka. Ela mesma insistiu que a Sérvia não deveria pagar pelo que um bando de milicianos deturpados fez. “Não fui para Srebrenica e matei ninguém”, disse, tomando um café espresso e ajeitando seus Ray-Bans. “Não cavei as covas. Por que todo o povo sérvio deveria levar a culpa?”

Outros, em especial os bosniaks, acreditam que o país nunca avançará na direção de um período de verdade-e-reconciliação à maneira sul-africana até que haja algum tipo de reconhecimento coletivo do massacre de Srebrenica, no qual quase 8 mil muçulmanos foram mortos por bósnios sérvios em julho de 1995. (Em março o parlamento sérvio aprovou em votação acirrada uma resolução “condenando” crimes de guerra em Srebrenica, de fato pedindo desculpas mas não chegando a chamá-lo de genocídio.)

Há também a complicada questão da identidade. Quem é o povo bósnio? São ex-iugoslavos? Muçulmanos, croatas, sérvios, eslavos, judeus, eslovacos, ciganos? Não ajuda o fato de que, pelo Acordo de Dayton, os políticos tenham de pertencer a um dos três “povos constituintes” – bosniaks, croatas ou sérvios – para se candidatar às eleições parlamentares ou presidenciais. Como diz Srecko Latal, um ex-jornalista que agora é analista dos Bálcãs para o International Crisis Group, uma ONG de resolução de conflitos: “Este é um casamento onde três parceiros estupram uns aos outros”.

Por que deveríamos nos importar? No mínimo, porque não é do interesse da Europa que a Bósnia-Herzegóvina se torne um Estado falido. “Você não consegue encontrar um único ataque terrorista na Europa sem o envolvimento de cidadãos da federação”, afirmou Dodik depois que uma bomba explodiu na Bósnia em junho. Foi um exagero bizarro, mas que alude a um problema real. O Ocidente, que vem observando os resultados da guerra do Iraque, e procurando uma saída do Afeganistão, deveria atentar para a reconstrução da Bósnia.

Então o que se pode aprender com isso? Certamente a guerra poderia ter se encerrado antes – a guerra de 1999 em Kosovo, combatida pela Otan, durou só três meses. E a esperança de que as divisões étnicas da Bósnia se dissipariam após a guerra se mostrou utópica. Dayton deveria ter feito mais em matéria de medidas para garantir a representação de todos os grupos relevantes, assim como para criar espaço social e político de forma a construir confiança entre os grupos.

O que pode ser feito agora? Livrar-se da OHR e deixar que a Bósnia se mantenha sozinha – como já foi discutido discretamente na União Europeia – seria um bom primeiro passo.

A verdadeira questão, no entanto, é mais filosófica. “Só queremos saber quem somos”, disse Latal. “Estamos lutando pela alma do povo bósnio”. E os bósnios pararam de esperar ajuda do exterior, disse. Durante a guerra, os habitantes de Sarajevo penduraram bandeiras americanas feitas em casa em suas janelas bombardeadas, acreditando que os Estados Unidos enviariam ataques aéreos para levantar o sítio. Mas tiveram de esperar mais de mil dias até que alguém viesse. Desta vez, disse Latal, se tudo der errado, “sabemos que só podemos contar com nós mesmos”.

Irã mata 30 guerrilheiros curdos no Iraque, diz Guarda Revolucionária

Segundo TV estatal iraniana, guerrilheiros foram mortos além da fronteira iraquiana no sábado

A televisão estatal iraniana informou neste domingo que a Guarda Revolucionária do Irã cruzou a fronteira e matou 30 militantes curdos no Iraque, considerados culpados por um ataque contra um desfile militar na semana passada.

O ataque ocorrido na cidade de Mahabad, noroeste do Irã, matou 12 pessoas, a maioria mulheres e crianças.

A televisão estatal citou o comandante da Guarda Revolucionária, Abdolrasoul Mahmoudabad, que teria dito que seus soldados ainda estão perseguindo o que ele chamou de "grupo terrorista".

O comandante teria dito ao canal de televisão que os "terroristas" foram mortos no sábado em um confronto "além da fronteira" do Iraque.

De acordo com a entrevista de Mahmoudabad, a Guarda Revolucionária ainda está perseguindo dois militantes curdos que teriam conseguido escapar. O comandante da guarda de elite não deu mais detalhes da operação.

O fato de uma autoridade iraniana admitir operações além da fronteira é algo raro no país.

Ataque

Até o momento nenhum grupo assumiu a autoria do ataque na cidade de Mahabad, ocorrido no dia 22 de setembro.

Um governador de província iraniana responsabilizou "grupos contrarrevolucionários" pelo ataque contra o desfile militar, ocorrido no 30º aniversário do começo da guerra entre Irã e Iraque.

Há tempos os militantes são ativos na região, quer conta também com uma população curda considerável entre seus habitantes.

Os separatistas curdos, baseados no norte do Iraque, também são responsáveis por uma longa campanha de guerrilha dentro da Turquia e entraram em confrontos regularmente com as forças de segurança iranianas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.