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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Exército boliviano se subordina à ideologia política do governo Morales

O exército boliviano se declarou "socialista, anti-imperialista e anticapitalista", segundo proclamou seu comandante, o general Antonio Cueto, no que é interpretado como uma inversão de 180 graus nas diretrizes políticas adotadas com maior intensidade entre 1964 e 1982, por influência do Estado então identificado com as potências chamadas do "mundo livre", que promoviam a luta contra a ideologia comunista.

A declaração do general Cueto parece ter surpreendido seus camaradas de armas, cuja primeira reação foi principalmente de rejeição a uma posição considerada individual e político-partidária, segundo transcendeu dos círculos de militares aposentados.

O exército comemorou no domingo em todo o país o bicentenário de sua criação, na realidade 15 anos antes da declaração de independência da Bolívia, durante a batalha de Aroma, na qual os crioulos [descendentes de europeus] derrotaram os monarquistas. O desfile no Colégio Militar do Exército de La Paz - replicado simultaneamente em todas as unidades militares do país - foi presidido por um emocionado chefe de Estado, Evo Morales, que fez sua primeira aparição pública apoiado em muletas, depois da operação de seu joelho esquerdo em uma clínica de Cochabamba, da qual teve alta no sábado.

O comandante do exército afirmou que a nova Constituição propicia um exército "como uma instituição socialista e comunitária; como tal, nos declaramos anti-imperialistas porque na Bolívia não deve existir nenhum poder externo que se imponha; queremos e devemos atuar com soberania e dignidade". Cueto explicou que sua posição "anticapitalista" se deve ao fato de que esse sistema está causando a destruição do meio ambiente, da Mãe Terra, e convocou todo o mundo a unir forças e capacidades para salvar o planeta.

É a primeira vez que o exército se identifica com uma ideologia política, embora nos quase 20 anos em que os militares governaram o país, em uma série de golpes de Estado, as tendências políticas fossem claras: anticomunistas no contexto da guerra fria e da hegemonia americana, que apoiou essa instituição técnica e financeiramente.

Morales, cujo retrato como recruta da Polícia Militar foi amplamente publicado pela imprensa em anúncios com a saudação presidencial ao exército, afirmou que a força militar nasceu "com uma posição anti-imperialista porque combateu o império europeu desde 1810", ao lembrar que na batalha de Aroma, em 14 de novembro desse ano, um exército irregular de índios e mestiços derrotou as forças monarquistas.

O presidente anunciou nesse mesmo ato que todos os altos comandos das três armas que compõem as Forças Armadas foram ratificados para acompanhar por mais uma gestão o processo de mudança que seu governo promove.

O influente historiador militar aposentado Fernando Sánchez Guzmán afirmou que se trata de "um absurdo querer atribuir a uma instituição tão grande, com uma função tão complexa e tão importante, uma missão enquadrada e limitada a um critério político-partidário, porque o que disse o general Cueto é isto: uma opinião muito pessoal de uma opção política própria que não pode comprometer toda uma instituição".

Sánchez Guzmán, que foi secretário permanente do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, lamentou as frases "mal alinhavadas" do general Cueto e explicou que a instituição militar deve estar preparada para enfrentar qualquer ameaça. "As ameaças são sempre ameaças, venham de onde vierem, e a todas é preciso responder", afirmou. Os parlamentares de oposição lamentaram o excesso do comandante Cueto de querer subordinar-se ao governo e não à Carta Magna em declarações coincidentes com as dos meios de comunicação. A deputada governista Rebeca Delgado, em uma tentativa de desvirtuar essas críticas, afirmou que a Constituição "proíbe que deliberem, mas não que possam opinar" e destacou a enorme consciência social do exército.

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