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sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Paquistão é uma bomba-relógio

Esta semana a revista “Time” o apontou como “o país mais perigoso do mundo”. Não sem razão. É um Estado nuclear, hipermilitarizado, sofrendo de esquizofrenia avançada com tendências paranoicas.

Pensando bem, não é nada surpreendente que Osama Bin Laden tenha passado dias tranquilos a 100 quilômetros da capital desse país. Nada surpreendente que o fundador da Al Qaeda tenha morado ali durante anos, a alguns metros de um escritório local dos serviços de inteligência. Nada surpreendente porque esse país, o Paquistão, está muito, muito doente.

Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, ele é o aliado dos Estados Unidos na luta contra o terrorismo. Mas ele abriga, protege e mantém muitos pequenos grupos terroristas em seu território. Ele depende imensamente da ajuda americana para sobreviver. Mas, por intermédio de protegidos afegãos, ele luta contra as forças americanas no vizinho Afeganistão.

Nos mais altos escalões do poder militar, o Paquistão manifesta uma complacência condenável com muitos grupos islamitas. Mas ele mesmo é vítima diária de atentados mortíferos. É controlado pelas forças armadas e serviços secretos onipresentes. Mas não sabia que Bin Laden estava morando em uma imponente mansão a uma hora de estrada da capital, Islamabad...

Então do que sofre esse país de 180 milhões de habitantes, dotado da bomba atômica e que se pretende um modelo de Estado muçulmano? Resposta: ele nunca se recuperou das condições de seu nascimento. Quando o Reino Unido abandonou essa parte de seu império colonial, em 1947, aceitou o princípio de uma divisão.

Os muçulmanos do Império das Índias se reagruparam naquilo que se tornou o Paquistão. Mas entre os dois novos Estados, a Índia e o Paquistão, subsiste um grande conflito territorial em torno da Cachemira (no nordeste do Paquistão). E, desde 1948, eles vêm brigando pelo controle dessa região povoada de muçulmanos.

A ONU impôs um cessar-fogo e uma linha de demarcação que corta a Cachemira em duas. Em vão. Por mais duas vezes, em 1965 e em 1999, a Índia e o Paquistão se enfrentaram pela Cachemira. É um conflito territorial estúpido, típico do início do século passado. Mas os protagonistas são países jovens, e um deles, o Paquistão, vive, se constrói e se consome na perspectiva da guerra com seu vizinho.

Os militares paquistaneses veem a Índia em toda parte. Eles são obcecados pela ideia de cerco: é só o Afeganistão, a oeste, passar a ficar sob influência de Déli, e eis que o Paquistão se vê pego entre a cruz e a espada...

Isso explica a linha diretriz, central, da estratégia paquistanesa: ter o domínio sobre o Afeganistão. Assegurar-se de que o pequeno vizinho ocidental (menos de 30 milhões de habitantes) esteja nas mãos de um regime amigo, e assim dispor de uma zona de retirada estratégica na perspectiva de uma grande guerra com a Índia.

Analista militar, ex-general do exército paquistanês, Talat Masood descreve – no “International Herald Tribune” de 16 de maio – a elite militar de seu país como “obcecada pela Índia como inimiga”. Ele fala em uma política que tem um alvo somente:  Índia,  Índia, e mais Índia.

É provável que a obsessão do cerco indiano seja uma fantasia. Se a Índia vem aumentando seu orçamento da defesa, é para não ficar atrás da China, e não por medo do Paquistão. Mas a fantasia do exército paquistanês é bem útil. Ela o autoriza a se apropriar de um quarto do orçamento do Estado.

E a dita fantasia explica também os talebans, pois foi para dispor dessa famosa alavanca sobre o Afeganistão que Islamabad criou os talebans afegãos, armando-os, protegendo-os e abrigando-os. Os talebans, estabelecidos nas regiões fronteiriças pashtuns comuns aos dois países, são os agentes do Paquistão no Afeganistão. Enquanto o Paquistão não tiver a garantia de um governo que lhe seja favorável em Cabul, ele instrumentalizará os talebans.

O general Masood diz muito bem: “Os paquistaneses estão determinados a ter direito à palavra e a mostrar sua influência sobre o Afeganistão (...) graças aos talebans afegãos e outros grupos igualmente hostis aos Estados Unidos”. Mas e Bin Laden?, dirão vocês. Mesma resposta: por causa da obsessão indiana, sempre. A Al Qaeda e Bin Laden encontraram no Paquistão redes de cúmplices. Não por acaso. Para lutar contra a Índia e apoiar um movimento de libertação ativa na Cachemira indiana, povoada de muçulmanos, o exército e os serviços secretos paquistaneses (o ISI) apadrinharam pequenos grupos terroristas jihadistas.

Um de seus protegidos, o Lashkar-e-Taiba, estabelecido no Paquistão, é considerado responsável pelo ataque terrorista a Mumbai, que resultou em 150 mortos e mais de 300 feridos em novembro de 2008.

Tolerados pelo ISI, talebans e grupos islâmicos armados explicam a logística da qual Bin Laden se beneficiou no Paquistão. Citado esta semana no “New York Times”, o jornalista de televisão paquistanês Kamran Khan observou: “Nós nos tornamos  a maior reserva terrorista do mundo”.

Os Estados Unidos se perguntam: será que eles devem continuar a ajudar um país que – desde o caso Bin Laden até o apoio constante aos talebans – demonstra tanta falsidade em relação a eles? Desde 2001, a ajuda a Islamabad chegou a US$ 11 bilhões (R$ 18 bilhões). Existe um grupo de pressão anti-paquistanês no Congresso e na imprensa americana.

Só que essa espécie de Estado falido de componente islamita, dotado de bomba atômica, causa medo. Quer se trate de operar uma retirada do Afeganistão em 2014, ou, até lá, de favorecer uma solução política nesse país, os Estados Unidos precisam do Paquistão. E, por todas essas razões, continuarão a cooperar com “o país mais perigoso do mundo”.

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