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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Primeiro-ministro do Japão invoca nacionalismo para esquentar rivalidade com a China

Shinzo Abe

Antes do primeiro-ministro recém-eleito do Japão tomar posse, ele fez uma peregrinação aos túmulos de seus ancestrais na província de Yamaguchi, no sudoeste do Japão. Ele acendeu bastões de incenso e uniu suas mãos diante de seu peito. Então ele disse aos seus apoiadores o que prometeu aos mortos: "Desta vez, eu estou determinado a cumprir a missão".

Com sua promessa solene no final de dezembro, Shinzo Abe não estava exatamente sugerindo que sua primeira tentativa como primeiro-ministro fracassou miseravelmente. De fato, ele renunciou em setembro de 2007 após vários fracassos e problemas de saúde. Em vez disso, o político de 58 anos estava invocando o legado político de seu pai e avô, precisamente por essa ser sua plataforma.

Em 16 de dezembro, Abe reconquistou a maioria na câmara baixa do Parlamento para seu Partido Liberal Democrata (PLD), que perdeu o poder nas urnas há apenas três anos. Agora, Abe quer liderar a potência econômica asiática, insegura e que está envelhecendo, de volta à sua antiga grandeza e, acima de tudo, livrá-la de seu impopular "regime do pós-guerra".

Ao dizer isso, Abe se refere ao que a ocupação americana impôs ao Império Japonês após sua derrota na Segunda Guerra Mundial: sua Constituição pacifista, um sistema de educação relativamente liberal e um entendimento da história que é totalmente estranho para Abe. Essa leitura, que os aliados vitoriosos inseriram nas decisões da Justiça nos julgamentos dos crimes de guerra em 1948, em Tóquio, pintava tanto o Japão quanto a Alemanha como agressores que precisavam ser permanentemente domados.

O primeiro-ministro deseja devolver o Japão à sua antiga posição de "belo país", que também é o título de um livro que descreve sua visão para o futuro do país. Ele quer que esse novo Japão abrace novamente os valores promovidos por seu pai, o ex-ministro das Relações Exteriores, Shintaro Abe (1924-1991), e praticados por seu avô, Nobusuke Kishi (1896-1987), a quem ele admira.

Kishi foi a versão japonesa de Albert Speer, o ministro dos armamentos e produção de guerra de Hitler. Ele acelerou a subjugação da China na Manchúria ocupada nos anos 30, e posteriormente administrou a máquina de guerra do Japão contra os Aliados.

Apesar de ter sido preso após a rendição do Japão em 1945, Kishi voltou ao cenário político em 1957 como primeiro-ministro, bloqueando os esforços para reconciliar seu país com a China. Fazendo seu nome como aliado anticomunista dos Estados Unidos, ele ganhou nova influência para seu país.

Preocupando amigos e adversários
Agora que Abe é o primeiro-ministro, o passado do Japão está repentinamente de volta ao presente. Quatorze dos 19 membros de seu Gabinete pertencem a um grupo de legisladores que promove peregrinações ao Templo Yasukuni, o memorial dos heróis, onde até mesmo os homens que foram considerados os principais criminosos de guerra do Japão estão entre aqueles adorados como deidades xintoístas.

"Muitos japoneses não veem seu país como perpetrador, mas sim como vítima da guerra", diz Kenichi Shimamura. O sociólogo acredita que os japoneses preferem pensar no sofrimento que suportaram na guerra, especialmente após a bomba atômica ter sido jogada em Hiroshima, em vez dos crimes de guerra que cometeram.

Os novos governantes gostariam até mesmo de riscar os gestos hesitantes de remorso. Em 1993, Tóquio pediu oficialmente desculpas por ter abduzido pelo menos 200 mil mulheres asiáticas para serem usadas à força como prostitutas. Abe, por sua vez, questiona publicamente se os militares de fato forçaram as chamadas "mulheres de conforto" a fornecerem serviços sexuais.

Os países vizinhos, como a China e a Coreia do Sul, não são os únicos que veem a nova tendência revisionista do Japão com suspeita. Os Estados Unidos, seus principais aliados e protetores, também temem que o Gabinete de políticos atávicos de Abe possa aumentar as tensões no Leste da Ásia.

A situação já é tensa desde a disputa no final do ano passado em torno das Ilhas Senkaku, no Mar do Leste da China. Na última terça-feira (15), Tóquio convocou o embaixador chinês para protestar contra um incidente, no qual quatro navios chineses passaram 13 horas em águas japonesas as reivindicando como território soberano.

Quase todo dia, barcos patrulha chineses e a guarda costeira japonesa se envolvem em manobras navais arriscadas e jogos de poder na região. Em dezembro, um avião de reconhecimento chinês sobrevoou as ilhas disputadas em baixa altitude.

Com esses atos de provocação, Pequim está alarmando os japoneses. A maior esperança deles é a de que Abe possa devolver a saúde à economia enferma do país. Mas como eles também temem a China, que tomou o lugar do Japão em 2010 como segunda maior potência industrial do mundo, os eleitores japoneses decidiram dar ao político nacionalista uma segunda chance como primeiro-ministro.

Agora Abe quer aumentar rapidamente os gastos de defesa. A expectativa é de que ele compre aviões não tripulados de reconhecimento dos Estados Unidos, em resposta à apresentação pela China de oito novas aeronaves não tripuladas em uma feira de aviação, em novembro.

Mas Abe também é um político realista flexível. Há poucos dias, ele enviou um emissário especial à Coreia do Sul, para informar Park Geun Hye, sua presidente recém-eleita, de que ele não tem intenção de alimentar a disputa em torno de outro arquipélago, as Ilhas Dokdo, controladas por Seul, às quais os japoneses se referem como Takeshima.

Durante a campanha eleitoral, o PLD incitou a tensão, ao anunciar planos para introduzir um "Dia de Takeshima" anual. Mas, por ora, Abe está bastante ocupado se preparando para enfrentar uma rival bem mais perigosa, a China.

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